Tinha prometido a mim mesma não comentar mais a irracionalidade cruel que se passou na Rússia há poucos dias, mas agora foi a gota de água. Os canais de televisão andam a falar no mesmo à tanto tempo que já parece um disco riscado. Como se não bastassem os directos ainda na altura do sequestro, os directos durante o assalto, os vídeos das famílias a gritar em desespero à procura dos seus familiares, os relatos do que se passou feitos na 1ª pessoa por adultos e algumas crianças, o interrogatório de um dos sádicos, e sei lá o que se mostrou mais..... então não é que agora, depois de se ter descoberto um vídeo dos sequestradores, encontraram a "vítima mais visível do vídeo" e ele descreveu o que lhes aconteceu!?
A mim só me vem uma pergunta à cabeça: "mas em quê é que o rapaz é diferente de todas as outras 1000 pessoas que lá estiveram"? É por ter aparecido isolado num vídeo enquanto as outras pessoas estão tão amalgamadas que quase nem se percebe que são corpos de pessoas diferentes? É por estar com as mãos atrás da cabeça e associarmos isso ao facto de que provavelmente teria uma arma apontada à cabeça?

Posso ser só eu mas acho que a curiosidade mórbida de muitos seres humanos está por detrás disto. Tem de se ter sempre uma vítima visível no meio das catástrofes para o caso se tornar mais pessoal e dramático (como se às vezes fosse possível!). A notícia funciona muito melhor se tiver um rosto em vez de muitos. E claro que os jornalistas só fazem o que o povo lhes pede: mostrar-lhes o drama, a tragédia, o horror.
Já pensaram que palavras como estas eram até há pouco tempo termos com um significado tão pesado e profundo que eram pouco usadas? Duvido que a causa tenha sido o aumento da violência.....Agora estão banalizadas ao ponto de que quem as disser se deve lembrar imediatamente o Albarran....

Em jeito de conclusão, andam à procura d'O Grito mas a mim parece-me que ultimamente não se vê mais nada.